A gente ousa dizer que a maior vilã da saúde mundial neste século, e não somente da saúde não, mas da sociedade como um todo, são as FAKE NEWS. É incrível como não só a desinformação, mas a informação errada, parece ter uma dispersão muito maior do que a verdadeira, ainda que isso possa levar à destruição de carreiras, de pessoas, e até à morte de inúmeros cidadãos. Uma mentira mascarada de notícia ou evidência pode acabar, em segundos, com anos e anos de trabalho científico – ou jornalístico, e até mesmo político – para provar um argumento.
Infelizmente, as pessoas através da internet e das redes sociais são expostas a milhares de pílulas de informação por segundo. Elas não digerem essa informação, muitas vezes, não checam se isso é verdade ou não, e já vão logo compartilhando com os amigos. Pronto. Se há uma pessoa que acreditou na mentira, na matéria de escrita enganosa só para ter mais acessos e visualizações, existirão inúmeras outras que compartilharão a mesma lorota. E acreditarão nela. E será ainda muito mais difícil provar para essas pessoas que elas estão enganadas. Por que? Simplesmente porque elas não querem saber que foram enganadas. Elas acreditam e ponto. Este também é o caso da maior Fake News de todos os tempos do mundo das vacinas. Spoiler: elas NÃO CAUSAM AUTISMO!
ONDE SURGIU ESSA HISTÓRIA?
Tudo começou lá no finalzinho dos anos 90, mais precisamente em 1998, quando o médico inglês Andrew Wakefield apresentou uma pesquisa que ainda era preliminar, mas que foi publicada na conceituada revista científica Lancet, descrevendo 12 crianças que desenvolveram comportamentos autistas e inflamação intestinal grave. De acordo com os resultados apresentados, o estudo afirmava que o que as crianças tinham em comum eram vestígios do vírus do sarampo no corpo.
Por mais que Wakefield e os coautores do artigo apenas levantaram a possibilidade de que uma coisa estaria relacionada a outra, ou seja, de que a vacina contra o sarampo seria uma possível causa para que apenas 12 crianças – sim, foram somente UMA DÚZIA de crianças estudadas – apresentassem comportamentos autistas. Essa singela sugestão, em um estudo não randômico, foi o suficiente para que as taxas de vacinação contra o sarampo (da vacina tríplice viral) caíssem drasticamente no Reino Unido no ano seguinte. Com a baixa taxa de vacinação, a Europa tem enfrentado surtos de sarampo em inúmeros países. Da mesma maneira, com a baixa de vacinação em terras brasileiras, passamos por surtos de sarampo e caxumba nos dois últimos anos, que não aconteciam há décadas.
MOVIMENTO ANTIVACINA & FAKE NEWS
A popularidade dessa Fake News foi o que faltava para milhões de pessoas no mundo inteiro questionarem a validade da proteção das vacinas e aderirem ao movimento da oposição. Para muitos especialistas, a publicação desse artigo na revista Lancet foi de extrema irresponsabilidade dos revisores, já que as consequências cruzaram os oceanos e até hoje em terras tupiniquins nos deparamos com pessoas que usam essa afirmação para não vacinar seus filhos. Com o advento da internet e o compartilhamento quase que instantâneo de informações, suposições falsas sobre possíveis efeitos adversos das vacinas contaminaram as redes de muita gente.
No caso das vacinas e autismo, em 2004, o Instituto de Medicina dos EUA concluiu que não havia provas de que o autismo tivesse relação com o timerosal, o componente da vacina que Wakefield julgava ser a causa para o desenvolvimento do autismo. No mesmo ano, descobriu-se que lá em 1998, antes do artigo ser publicado na Lancet, ele havia feito um pedido de patente para um novo tipo de vacina contra sarampo que concorre com a que era vigente, ou seja, ele desmereceu a vacina antiga para vender a sua própria. Como se não bastasse isso, outro médico que participou das pesquisas revelou que na realidade eles não acharam vestígios do vírus do sarampo nas crianças estudadas, e que Wakefield ignorou esse fato para que o trabalho pudesse ser publicado. Infelizmente, após mais de duas décadas, esse é um assunto ainda defendido por muitos, o que mostra a gravidade das Fake News, e como elas podem estar em todos os lugares, de ciência à religião, de política a entretenimento.
ENTÃO VACINAS NÃO CAUSAM AUTISMO MESMO?
NÃO! Vacinas não causam autismo e podemos provar! Ante toda essa bagunça realizada pelo Wakefield, um estudo robusto, de escala inédita, realizado pelo Instituto Serum Statens, feito em colaboração das universidades de Copenhagen, na Dinamarca, e Stanford, nos Estados Unidos, tirou qualquer pulga atrás da orelha. Foi publicado no começo do ano passado, e reforçou que a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) não aumenta a probabilidade de desenvolvimento de transtornos do espectro do autismo (TEA). Os pesquisadores analisaram registros de saúde de mais de 650 mil crianças dinamarquesas, nascidas de 1999 a 2010, a partir do primeiro ano de vida até 31 de agosto de 2013. Ao todo, 6.517 indivíduos haviam sido diagnosticados com TEA, e a razão de risco entre os vacinados e não vacinados foi semelhante.
O estudo também aponta que a tríplice viral não aumentou a incidência quando consideradas as variáveis sexo, período de nascimento, administração das demais vacinas oferecidas gratuitamente, histórico de irmão(s) com TEA e presença de alguns fatores de risco, a exemplo da prematuridade, baixo escore de Apgar, fumo durante a gestação, entre outros.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Imunizações, SBIm, “os resultados são outra vitória da ciência sobre o conspiracionismo”. Mesmo que o movimento antivacina não seja tão influente no Brasil quanto lá fora, nosso país voltou a enfrentar uma forte onda de sarampo, pouco menos de dois anos depois de receber da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) o certificado de eliminação da doença. Segundo o Ministério da Saúde, os primeiros casos reportados durante o surto lá em 2018 foram importados, mas se espalharam pelo Brasil. Em 2020, em meio a pandemia de coronavírus, são quase 8 mil casos de sarampo confirmados por aqui, e outra grande preocupação é que o “novo normal” influenciou negativamente na cobertura vacinal da população, deixando-a ainda mais vulnerável.
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Fontes:
Hviid A. et. al., “Measles, Mumps, Rubella Vaccination and Autism”, A Nationwide Cohort Study, Disponível em:DOI: 10.7326/M18-2101
Sociedade Brasileira de Imunizações, SBIm, Notícias, “Estudo com 650 mil crianças comprova que tríplice viral não causa autismo”. Disponível em: https://sbim.org.br/noticias/1073-estudo-com-650-mil-criancas-comprova-que-triplice-viral-nao-causa-autismo