Subespecialidade médica voltada para viajantes surgiu recentemente para ajudar na conscientização, prevenção, controle e tratamento de enfermidades em pessoas que viajam dentro e fora do país
A medicina voltada para viagens, com atendimento especializado no Brasil desde 1977, tem como objetivo supervisionar e prevenir a circulação de doenças entre os países. É uma especialidade que serve para mitigar ou impedir a introdução e reintrodução de doenças preveníveis por vacinas, a propagação de surtos, epidemias e pandemias, além de reduzir os riscos à saúde individual das pessoas, como os que decorrem de doenças infectocontagiosas.
Para a gerente médica de Segurança Clínica do Instituto Butantan, Karina Takesaki Miyaji, um dos aspectos mais importantes desse ramo é a orientação individualizada antes da viagem. Essa supervisão facilita o acesso a formas eficazes de prevenção, como a imunização. “Aplicar as vacinas corretas antes de viajar, além de prevenir que a pessoa pegue alguma doença no local de destino, pode evitar que ela traga alguma coisa de lá”, diz a médica infectologista.
A vacinação antes de uma viagem também ajuda a dificultar o fluxo de novas doenças. No sudeste asiático, por exemplo, existe o mosquito que transmite a febre amarela, o Aedes aegypti, mas não há a circulação do vírus que causa a doença. Ao viajar para lá, um brasileiro tem que apresentar o comprovante de vacinação da febre amarela — já que vivemos em área endêmica dessa enfermidade (com circulação frequente do patógeno). Isso garante que ele não vai levar o vírus para a região e, assim, colocar em risco a população local.
No caso de viagens internacionais, a vacinação é comprovada pelo Certificado Internacional de Vacinação e Profilaxia, documento que atesta a imunização de doenças como febre amarela, poliomielite e meningite. A Organização Mundial da Saúde (OMS) lista os países que requerem o certificado de vacinação da febre amarela, que agora pode ser emitido digitalmente pelo aplicativo ConecteSUS.
Vale lembrar, no entanto, que o corpo humano precisa de um tempo para que a vacina comece a fazer efeito – o ideal é esperar 14 dias antes de se expor. Para os imunizantes que precisam de mais de uma dose, o protocolo é procurar atendimento médico com antecedência. Para completar o esquema vacinal da hepatite B, por exemplo, são necessários seis meses.
Medicina do Viajante: como funciona?
O papel da medicina do viajante é reforçar medidas de proteção que antecedem viagens dentro ou fora do país. “A orientação acaba sendo bastante individual, pois depende de onde a pessoa vai e o que ela vai fazer lá. Se há uma viagem para um ambiente com saneamento básico precário, por exemplo, é interessante tomar vacina de hepatite A e febre tifoide, já que é mais fácil de entrar em contato com água e alimento contaminados”, relata Karina.
Uma estratégia eficaz relacionada à medicina do viajante é utilizada na peregrinação a Meca, na Arábia Saudita, que acontece todos os anos em uma data variável, entre o 8º e o 13º dia do último mês do calendário islâmico. Por conta da alta incidência de estrangeiros e da grande aglomeração de pessoas, o governo saudita exige que os visitantes que vêm de regiões onde a poliomielite é endêmica apresentem certificado de vacinação, enquanto a vacina meningocócica é exigida de todos. Essas medidas servem para assegurar a proteção dos demais peregrinos. Em 2023, o ritual reuniu cerca de 2,5 milhões de pessoas de todo o mundo.
É papel do médico do viajante identificar casos suspeitos de doenças por meio de informações sobre o local em que o paciente esteve e se há alguma epidemia na região. A partir disso, ele deve repassar os dados à vigilância epidemiológica que ficará responsável pelo monitoramento do quadro.
Diferentes prevenções para diferentes doenças
Antes de qualquer viagem, o ideal é estar com a vacinação em dia, de acordo com o calendário para cada faixa etária, como hepatite B, febre amarela, tríplice viral (sarampo, caxumba, rubéola), difteria e tétano. A indicação de outras vacinas depende do risco no destino.
Doenças respiratórias como Covid-19 e influenza são mais difíceis de controlar e prevenir, mesmo quando existem vacinas. Isso acontece porque vírus que circulam pelo ar se propagam com mais rapidez e eficácia. Mesmo as testagens em massa são incapazes de conter essas doenças em caso de epidemias, já que são comuns resultados falsos negativos e a chegada de pacientes infectados assintomáticos. Por conta disso, o ideal é estar atento a possíveis surtos e quadros de enfermidades no local de destino da viagem.
Para doenças que têm mosquitos como vetor, caso da dengue, chikungunya e malária, há outras medidas de prevenção, como a proteção a picadas. A depender da região, há indicações de repelentes, roupas apropriadas e, no caso da malária, de acordo com o risco e tempo de estadia, métodos de quimioprofilaxia (que antecipa o uso de remédios para evitar casos severos). A malária é uma doença grave e de rápida evolução, mais comum na Amazônia, África e Ásia, e que pode levar a uma piora do quadro geral em até 24h. “Se for para área endêmica de malária e começar a ter febre, procure um serviço médico para fazer exame”, alerta Karina.
Fonte: Portal do Butantan
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