No início da pandemia, quando os primeiros casos de COVID-19 começaram a ser reportados, o cruzeiro Princess Diamond foi colocado em quarentena em Yokohama (Japão) após um de seus passageiros testar positivo para a doença. Durante 15 dias de testagens, entre os 3711 passageiros e membros da tripulação, 634 pessoas testaram positivo. Mas o que intrigou a população científica foi o baixo número de casos de pessoas que não desenvolveram sintomas – cerca de 50,5% – mesmo que em sua maioria fossem idosos.¹
No entanto, antes do início da viagem, foi recomendado que os passageiros tomassem a vacina protetora contra a Hepatite A, pois o cruzeiro realizaria viagem internacional em áreas endêmicas para a doença. Restou então a dúvida: teria sido esse o motivo para a baixa quantidade de casos sintomáticos?
COMO A VACINAÇÃO CONTRA A HEPATITE PODERIA PROTEGER CONTRA A COVID-19?
A Hepatite A é causada pelo vírus da Hepatite A, afetando principalmente o fígado. Sintomas como a fadiga, náuseas, dor abdominal, perda de apetite e febre baixa são os mais comuns. Essa doença é considerada endêmica (frequente) em países subdesenvolvidos, como em regiões da África, Ásia, América do Sul e Central, pois a principal forma de transmissão é através dos alimentos ou água contaminados, ou pelo contato com uma pessoa infectada, se agravando em áreas sem infraestrutura de saneamento básico.
Sua vacina é composta pelo vírus inativado, sem a capacidade de causar a doença, mas suficiente para criar memória imune e proteção contra uma futura infecção em até 20 anos. São recomendadas duas doses, aos 12 e 18 meses de vida. A hipótese do estudo era que a vacinação contra a Hepatite A poderia ser protetora também contra a COVID-19 por uma REAÇÃO CRUZADA IMUNE ADAPTATIVA.
Não precisa se assustar com o termo, pois é bem simples de entender: ao tomarmos uma vacina, nosso sistema imune cria ANTICORPOS, células de reconhecimento e defesa, específicos contra o material genético, proteína de membrana, vírus ou bactéria (inativados ou atenuados) presentes na vacina. No entanto, esses anticorpos podem ser capazes de reconhecer também outros micro-organismos patogênicos de estrutura semelhante, oferecendo proteção com a mesma ou menor intensidade. A esse processo se dá o nome de reação cruzada. Através desse mecanismo, a imunização conferida pela vacina contra a Hepatite A, poderia ser capaz de reconhecer e combater também o SARS-CoV-2, explicando o que aconteceu no cruzeiro.
MAS O QUE DIZEM OS ESTUDOS?
A vacinação contra a poliomielite, Hib (Haemophilus influenzae tipo B), sarampo-caxumba-rubéola, varicela, pneumonia, gripe, hepatite A e B está associada à diminuição dos casos de infecção pelo SARS-CoV-2. Foi o que o estudo da Mayo Clinic, dos Estados Unidos, publicado em julho de 2020 descobriu. Entre os 137.037 pacientes avaliados, notou-se que os vacinados para alguma das doenças anteriores, nos últimos 5 anos, tiveram menos taxas de infecção.²
Além disso, em agosto de 2020, a revista “Cell Reports Medicine” publicou um artigo com resultado parecido, agora sobre a vacina contra a tuberculose. O estudo foi realizado com 430 voluntários infectados pelo coronavírus. Entre eles, 266 receberam a vacina contra a tuberculose. Esses tiveram sintomas mais leves da Covid-19, com menos casos de fadiga extrema.³
Porém, em ambos, os autores confirmam que apesar da vacinação não apresentar riscos para a população, estudos mais específicos devem ser realizados para confirmar os resultados e que apenas a vacinação contra Hepatite A ou Tuberculose não garante eficácia de proteção necessária contra a doença. Por isso, nada de relaxar nos cuidados necessários: a vacina específica contra o coronavírus está cada dia mais próxima. E enquanto ela não chega, devemos continuar utilizando máscara de proteção, evitando aglomerações e estando atentos com a higienização correta das mãos.
Ficou com alguma dúvida? Entre em contato! Não se esqueça de estar com as suas vacinas em dia. Conte com a gente para proteger você e a sua família!
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Fontes:
– ¹ SARIALIOGLU, Faik; APAK, Fatma Burcu Belen; HABERAL, Mehmet. Can Hepatitis A Vaccine Provide Protection Against COVID-19?. Experimental and Clinical Transplantation, v. 2, p. 141-143, 2020.–
² PAWLOWSKI, Colin et al. Exploratory analysis of immunization records highlights decreased SARS-CoV-2 rates in individuals with recent non-COVID-19 vaccinations. medRxiv, 2020.–
³ MOORLAG, Simone JCFM et al. Safety and COVID-19 symptoms in individuals recently vaccinated with BCG: a retrospective cohort study. Cell Reports Medicine, v. 1, n. 5, p. 100073, 2020.